Archive

Archive for January, 2005

Tinto seco? Não, tinta seca

Eu pintei meu velho apartamento. Com a indispensável ajuda dos meus amigos elementos. Foi o fim de semana inteiro de pinceladas pra lá e pra cá e passa o rolo e passa massa corrida e volta segunda para mais uma demão na gigantesca sala. É aquela correria que todo mundo sabe como é, ainda mais com massa corrida. Não é massa.

Isso tudo acabou de ativar umas sinaspses aqui no meu cérebro dormente e eu me lembrei de um sonho que tive de anteontem pra ontem ou de ontem pra hoje. Antes eu vou contextualizar. Agora estou morando longe da cantina de vinhos da Pipa. Antes morava do lado; andei pensando nisso nos últimos dias. Também estava pintando o apartamento, o que cansa a alma. Daí o sonho, sem detalhes:

O dono da cantina de vinhos da Pipa fechou a cantina e foi trabalhar em uma casa de tintas. Eu fiquei muito chateado. Encontrei-o por acaso quando fui comprar tintas para pintar meu apartamento. Ele me explicou que fechou a cantina por que as pessoas não bebem vinho no verão, mas pintam casas o ano inteiro. O que me deixou mais chateado foi o que ele disse para seu companheiro de trabalho quando eu estava indo embora, imaginando que eu não poderia ouvir: “Eu não gosto desse cara aí, e ainda por cima ele fica dando em cima das minhas filhas, e elas também nem gostam dele”. Fiquei de cara! Quer dizer que a simpatia dele era pura falsidade? E quem disse que eu dava em cima das filhas dele? É de uma só, não das duas, e bem de leve.

Ora ora ora!

Agora que a tinta está seca, eu topo um tinto seco. É só avisar.

Categories: Diarices

Nada aquém

Nada aquém de nenhuma das minhas expectativas.

O que está abaixo das minhas expectativas, é normalmente tão diferente delas, que se torna algo além das minhas expectativas. Nunca há aquém, há sempre além. Para o alto e avante.

Meu curso de Psicologia é um ótimo exemplo. A Psicologia é completamente diferente do que eu pensava que era. A princípio, parecia que para pior. Olhando com olhos mais experimentados, percebo que a Psicologia está anos luz além.

Está no além mesmo esse curso. No além da imaginção. O que há de toscos não é fácil! Pedreiros toscos derrubam prédios; psicólogos toscos derrubam…

Estou com pressa, meu dia foi corrido. Minhas mãos estão com um cheiro insuportável de cloro. Passei a manhã limpando paredes e a tarde ouvindo aula de estatística. Não terminei de limpar as paredes nem terminaram as aulas de estatística.

Olê olá quando estou cansado escrevo sem parar.

Chega disso.

Categories: Uncategorized

Ao sobrevivente, as palavras

Acordo olhos cansados de um pesadelo e descubro que estou cercado por pensamentos lutando uns contra os outros. Estou desolado com a visão de pedaços de palavras quebradas. A cada nova palavra destruída eu sinto uma aflição aguda e um esquecimento. Ficando tolo, perdendo…

Os pensamentos lutam e meu corpo é o palco, o alvo, o motivo e o objetivo da guerra. O “caminho do meio” faz frente ao “carpe diem” mal compreendido. O primeiro empunha as palavras de Buda e o “carpe diem” de hoje corre perdido sem a voz do seu sentido original. Uma cena triste, à qual se juntam a auto-flagelação e a culpa. Estou calando…

Os pensamentos, sem perceber, estão arrancando da minha mente a percepção da realidade – da realidade separada da minha mente – da realidade criada pela minha mente – da minha mente irrealizada na minha mente. Sem tempo, sem pessoa. Não entendo o porquê da guerra até que ouço o grito: “ao sobrevivente, as palavras”. Estou caindo…

Então é isso… as idéias querem minha voz, minhas mãos segurando canetas. Querem expressão, mas estão me destruindo e destruindo a possibilidade de se juntarem coerentemente. Estou distorcendo…

Bem e mal. Forte e fraco. Ridículo. Destrutivo. Mais feios são os graus tentando desfazer os “opostos” por meio de xingamentos. Todas são idéias egocêntricas, inclusive as que falam de paz… Todas são idéias acumuladas durante anos, lutando pela dominação da minha mente. Cada uma delas tenta me convencer da sua superioridade, mostrar-me o correto, o melhor. O problema é que estou consciente. Estou desentendendo…

A luta se reflete na minha cabeça sendo alucinada, doendo muito enquanto tento compreender o que acontece. Eu me ajoelho abismado, eu me levanto dolorido. Nada faz sentido, foi-se a coerência para-aonde-não-sei. O mundo fica turvo, eu me confundo com o chão que piso, com o homem que pisa em cima da minha superfície branca e gelada, com o corpo que me respira e me devolve diferente… Geléia, gelatina, caído em nuvens. Cabeça, cabeça, caçada, cachaça, calado, descascado, des des des. Ajudem…

— Ajudem!

Um pensamento corajoso salta da trincheira direita e vem falar comigo, ao meu socorro. Sussurra algo ao meu ouvido; o que? Depois me chama de General e se desespera:

— General, o Sr. precisa acabar com esta guerra! Não vê? Está perdendo muitos pensamentos… Isso não pode ser bom — e vai embora alarmado de volta para a trincheira direita. Sussurrou algo no meu ouvido…

São minhas crenças e decisões que estão sendo disputadas, e talvez nada sobreviva, e então serei um corpo sentado em uma de muitas cadeiras. Calado em uma posição de uma fila grande, olhando para uma porta que não sei a que leva. Chão não, gelatina não, pessoa, ato de vontade! Pessoa. Acudo…

Respiro fundo e encaro, em dor, o caos formado. Os pensamentos se tornaram mutantes, amálgamas deficientes e incoerentes, efeitos colaterais da guerra que agora entendo ser corriqueira nos cantos adormecidos do cérebro. O problema é que estou consciente, estou vendo a guerra diária que se esconde onde a luz tem medo…

Ato de vontade, eu grito o sussurro que a idéia da trincheira direita soprou:

— A razão é vazia, o que importa é o prazer que acompanha a idéia.

De alguma forma me entendem… O silêncio e a paz se estabelecem. Ao menos até o próximo aprendizado…

Fecho olhos cansados e volto para o sonho antes do pesadelo. A guerra não acabou, ganhou um pensamento, um esperto pensamento que se aliou ao sentimento. Eu durmo empurrando a guerra para a escuridão.

Categories: Prosa

Queéarte?

Estou com a pequena obsessão de tentar definir o que é arte. Besteira minha, claro. Eu poderia começar lendo livros especializados, mas prefiro minha opinião a dos outros. Sempre achei melhor pensar sobre um assunto e só depois ler o que escreveram a respeito dele.

O problema é que acabei entrando em contato, ainda que acidentalmente, com algum material. O livro “O que é literatura”, da coleção primeiros passos, completou o que eu tinha visto no filme “O sorriso de Mona Lisa”. Depois, tive algumas discussões, uma em grupo, outras duas em dupla.

Adivinha a que conclusões chegamos? Acertou a mocinha da platéia que respondeu “nenhuma”.

Se arte fosse criar emoções, qualquer soco ou tiro seria arte. Se arte fosse o que o artista diz que é arte, vocês estariam lendo uma obra de arte. Se arte fosse o que os especialistas dizem que é arte, então teríamos que engolir muita baboseira. Se arte fosse comunicação, os jornais são arte. Se arte fosse estética, todo olho azul é arte. Se arte fosse uma representação re-imaginada do mundo, então qualquer palavra ou imagem de qualquer época seria arte. Se arte fosse descarregar emoções, xingar seria arte. Se arte fosse a representação de um tempo, de um estilo de vida, de um pensamento central de uma época, “é o tchan” seria arte. Se arte fosse o que é funcional, uma caneta (com tinta) seria arte.

Radical e exagerado o parágrafo acima. Alguém perspicaz perguntaria: “e se arte fosse a combinação de tudo isso e muito mais?” Aí eu quero ver alguém me mostrar peças artísticas que reúnam todas essas características. Não duvido que existam peças assim; mostrem-me.

Pior são os especialistas. Bah! Imagina se eles resolvem definir também o que é se alimentar!

Sei lá o que é arte… Se você sabe ou tem alguma opinião, coloque ali nos comentários, por favor

Categories: Arte

6 Dardos

* Estou aqui no laboratório. Os hamsters olham para mim com uma cara estranha. Acho que eles sabem que conheço Jack, o Sobrevivente. Talvez queiram me perguntar sobre os feitos do grande hamster.

* Está quente a não poder mais. Estou suando absurdamente. Meu quarto está uma zona, e por isso estou longe dele.

* Não sei o que escrever, mas estou escrevendo porque vir até aqui só pra checar e-mail não vale a pena.

* Hoje eu vou ver Nina com a Nina. Legal, né?

* Na minha primeira disputa oficial de dardos na casa nova, já bati todos os recordes. Fiz o maior número de pontos (142), a maior média de pontos em 40 rodadas (mais ou menos 59 pontos por jogada) e, claro, o maior número de pontos em 40 rodadas (2351). Todos ficaram putos e pediram desculpas por terem zombado do meu nome de guerra, “Acerto Preciso”. Os outros jogadores, “Ponta Grossa” e “Flecha Negra” ficaram bem, bem para trás. Esta casa é insana. Eu coube como uma luva.

* Que post “diário” sem graça!

Categories: Diarices

Desfez-se o QG da Z4E

Ontem deixei o QG da Zona dos Quatro Elementos (Z4E). Agora moro na REPÚBLICA DOS ASSECLAS DO BEBÊ DE ROSEMARY. É divertido aqui, já percebi. O melhor é que já conheço bem todo mundo. A casa é enorme, cheia de possibilidades, quartos e árvores, além de ter um terreno anexo que usamos como nosso.

Além do bebê de Rosemary, aqui na casa há o quartinho do Harry Potter, a pedra filosofal, o cuco louco, a pedra de turmalina, a sauna (que não é sauna), o cachorro chamado cavalo e o cachorro pra lá de feio. Esta insanidade taxonômica toda normalmente sou eu quem cria; entrar para um local já insano nesse grau me faz sentir bem.

Mas o papo hoje é sobre a Z4E…
Morei na Z4E durante três anos e meio. Muitas histórias, como as das quartas-feiras de porre no extinto X-Picanha, ou a vez em que eu e o Cabelo tomamos uma 51 inteira, para desespero dos nossos fígados. Foi morando lá que vivi a ilha e conheci as pessoas mais extraordinárias de todos os tempos, na UFSC, em POA, para a vida toda. Foi nas dependências da Z4E que mais amei e mais sofri.

Quanto aos moradores… somando eu, quatro pessoas figuraças. Jamal, o Elemento Terra, e sua profusão de músicas estapafúrdias. Cabelo, o Elemento Água, e sua divertidíssima busca por novidades. Vitiligo, o Elemento Fogo, meu irmão. E eu, o Elemento Ar. Vou sentir muita saudade do organismo que éramos. Um sabia do humor do outro apenas com um olhar de relance, e sabia exatamente que piada contar para conjurar as gargalhadas.

Vou sentir saudade desses caras. Muita mesmo, caraca! Lamentar eu não vou, pois jamais deixamos de fazer o que queríamos. Obrigado, molecada!

E é por isso tudo que não sou um simples assecla do bebê de Rosemary. Sou um ELEMENTO assecla do bebê de Rosemary. Agora preciso ir até a sauna pegar algumas coisas e levar para o quartinho do Harry Potter.

Categories: Diarices

Três curtas

Desconfortos
Uma das coisas que mais me desconforta é saber que mesmo os sentimentos e as construções mais altruístas são apenas uma possibilidade para os humanos, não a regra, nem necessariamente o correto. Outra coisa que me desconforta é o que é feito com todas essas possibilidades e liberdade. Finalmente, desconforta-me sobremaneira o quanto muita, mas muita gente mesmo, ignora a escolha de decidir no que acreditar e, principalmente, a arbitrariedade de acreditar no que acredita.

Festival do Minuto
Eu tive uma idéia bem coerente para filmar para o festival do minuto. Fui burro o suficiente para contar para meio mundo. Se por acaso o filme aparecer por lá sem que eu o tenha produzido não vou poder reclamar e muito menos provar que a idéia foi minha. A merda já está feita. Pensando nisso, e sendo aparentemente mais burro e desapegado à minha idéia, vou anunciá-la aqui. Preciso de um favor, porém. Por ser possível alterar a data e a hora dos posts no sistema blogspot, preciso que alguma pessoa deixe um comentário, pois essa seria a única prova de que realmente publiquei este texto nesta época do ano. A idéia, que de repente não é boa:

Mostrar a influência de uma banda grande sobre outras por meio de uma metáfora. Um cd famoso da banda grande dando um concerto, ou uma palestra, para os cds das outras bandas. O cd da banda grande deve estar em uma plataforma, enquanto os cds das outras bandas assistem atentamente. O fundo sonoro é uma música do cd da banda grande. Pensei em uma tomada de câmera única, com a câmera “passeando” entre os cds influenciados, depois se afastando enquanto vira (mostrando a grande quantidade de “pessoas” na platéia), e continua se afastando até mostrar no topo o cd da banda grande sendo reverenciado.

Mudança
Finalmente, o dia final de mudança. Não tendo net na casa nova, deixo um grande abraço a um grande número de amigos meus com os quais só converso por MSN. Talvez fiquemos um tempão sem nos falarmos. Alguns de vocês moram longe demais para eu ver com uma freqüência decente. Abração mesmo. As outras atividades continuam normalmente, mas com maior espaço de tempo entre elas. Mudanças são sempre boas? Sei lá! Deixa rolar alguma coisa pra eu responder se essa é ou não. A Z4E, a república de onde estou saindo, merece um texto de despedida. E terá.

Fui, rumo ao novo lar.

Categories: Cinema