Registro do caso “Registro”
Moro com cinco pessoas. Comigo, seis ao todo. Todos, infelizmente, homens. Todos, felizmente, boa gente. Todos confiantes de suas capacidades. Preparados para a formação, que está próxima. Empolgados com as possibilidades. Atentos aos acontecimentos. Planejadores. Festeiros. Estudiosos. Todos ridiculamente vencidos por um episódio desconcertante…
Eu me mudei para a casa onde moramos em janeiro, dia 21. Uma das primeiras coisas que notei foi o impotente fluxo de água das torneiras da cozinha. Sim, há duas, uma ao lado da outra. O caso era tão grave que todos os visitantes perguntavam qual era o problema com as torneiras. “Elas são assim”, dizíamos fatalistas e conformados.
Um dos nossos companheiros de casa resolveu, por bem, que uma torneira deveria ocupar o lugar da outra. Fechou o registro, trocou as torneiras de lugar com estrondoso sucesso. E, claro, abriu o registro…
Eu fui o primeiro a notar, quando fui lavar um copo. Todos estavam na sala contígua, jogando Banco Imobiliário, xingando um ao outro de ladrão. Fui até a porta da cozinha e perguntei entre tímido e desesperado:
— Vai me dizer que o fluxo da torneira era fraco porque o registro não estava todo aberto?
Entreolharam-se. Xingaram a maldita vida. Perceberam seu erro, seu fatalismo, seu conformismo. Futuros psicólogos, treinados para lidar com os problemas, modificá-los, encontrar suas razões… derrotados por um registro não verificado.
Naquele dia, fizemos a festa da torneira.